Artefatos Indígenas na Comunidade do Samaúma no Rio Mamurú na Fronteira Pará/Amazonas
- Larissa Monteiro

- 27 de fev. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de abr.
Curiosidades nas artes em argila, que nos remetem a um período histórico das culturas dos povos originários

A Comunidade do Samaúma, no Rio Mamurú — na fronteira entre Pará e Amazonas (distante 71 km de Parintins) —, onde aprendi a ler, a escrever e vivi minha infância, é um sítio arqueológico. Há vestígios de povos indígenas por meio de artefatos que evidenciam atividades históricas de um passado "misterioso".


O objetivo aqui é apresentar os artefatos que contribuirão para reconstruir a história desse chão caboclo e ribeirinho, antes habitado por nossos ancestrais indígenas. Entretanto, é importante mencionar um projeto de pesquisa — idealizado por Tarciane Cavalcante (ex-moradora e estudante do curso técnico em Meio Ambiente, IFAM Parintins) e pela Prof.ª Dr.ª Vera Marinho (IFAM Parintins) —, que visava resgatar a identidade cultural do local, mas não avançou devido à falta de recursos para logística.


Ainda não existem estudos que revelem as datas em que esses povos originários habitaram o local. Mas o senhor Sebastião Batista Pereira, 67, liderança indígena Sateré-Mawé da comunidade Nossa Senhora Aparecida, no Rio Mamurú, confirma a história de que "ali era uma aldeia no Samaúma, no Acácio - onde chamam Maloca -, no Zé Bezerra (antiga comunidade da Forca), na comunidade Nova Canaã (Tucunaré)”, relata.
Cria legítimo do Rio Mamurú, seu Sabá - como é conhecido - conta que morava com seus pais numa aldeia localizada "acima da boca do repartimento do Mariaquã e o Mamuruzinho". Quando tinha cerca de 8 anos, seu pai foi infectado pelo vírus da febre amarela, doença responsável por matar muitos indígenas da região. Metade dos sobreviventes refugiou-se no Rio Andirá.
Para fugir da doença, mudou-se com os pais para as proximidades do que hoje é o Samaúma, local que ajudou a fundar anos depois. Na região, vive até hoje com filhos e netos, porém em outra área do Samaúma, onde estabeleceu a comunidade indígena Nossa Senhora Aparecida.


Segundo relato de minha mãe, Vanusa Monteiro, quando os primeiros moradores chegaram para limpar a área e estabelecer a comunidade, encontraram vários artefatos indígenas: símbolos em argila, fragmentos de cerâmica, utensílios de barro e machadinhas indígenas (pedra polida) - estas últimas o povo utilizava para amolar facões.


No passado, era comum encontrar esses objetos durante as limpezas do terreno, nos trabalhos de plantio ou quando novas famílias chegavam solicitando lotes para moradia. Hoje, essas relíquias tornaram-se raras, embora ainda possam ser encontradas.


Tais relatos reforçam que o local foi uma aldeia há anos. Como evidência, apresento os artefatos deste ensaio fotográfico (registrado em março de 2020), cuidadosamente preservados por Simone Lopes Pereira, residente da comunidade do Samaúma.


Na minha infância, enquanto moradora da comunidade do Samaúma, encontrava artefatos parecidos com esses em minhas andanças e brincadeiras pelo terreiro de casa. Amontoava ali os que encontrava pela frente. Minha mãe sempre dizia que eram artefatos indígenas e repetia as histórias dos idosos sobre o local ter sido uma aldeia no passado.


Mas o que aconteceu com os povos indígenas? O que sabemos é que a maioria desses indígenas morreu em epidemias de diversas doenças que assolaram aquela região há muitos anos - como as de sarampo e febre amarela. Quando essas doenças atingiam uma aldeia, a mortalidade era massiva: não poupava crianças, jovens, adultos e idosos. Os poucos que sobreviviam, marcados pela dor, abandonavam seus lares. Alguns, anos depois, ousavam voltar - mas nunca ao exato lugar do trauma, estabelecendo-se nas redondezas.


Artefatos indígenas são objetos de utilidade (feitos conforme as necessidades do povo), de ritos (vinculados às tradições) ou de simbologia (criados a partir da relação com a natureza e a aldeia). A maioria desses artefatos são representações de animais; outros são fragmentos de louças - como é possível identificar na imagem que mostra parte de um pote.



A maestria nos detalhes artísticos e a precisão motora dos grafismos que adornam os fragmentos cerâmicos não apenas moldam utensílios, mas verdadeiras obras-primas. As belas criações imagéticas, que remetem a seres conhecidos e desconhecidos, despertam curiosidade. Espero, em breve, dar continuidade à história por trás desses artefatos e dessa comunidade.

Foto: Larissa Monteiro



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