Trabalhadores Invisibilizados: Artistas de Alegorias dos Bois-bumbás Garantido e Caprichoso
- Larissa Monteiro

- 1 de mar. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de ago.
Uma reflexão sobre o trabalho dos artistas de alegoria, nos bastidores do Festival Folclórico de Parintins

Texto e edição: Larissa Monteiro/Amazonas Cultura
Parintins (AM) – Diante a magnitude que se tornou o Festival Folclórico de Parintins (Patrimônio Cultural do Brasil), que é o maior espetáculo cultural a céu aberto do Brasil, os artistas de galpão (artistas de alegoria), a essa altura, deveriam ser melhor valorizados.
É impensável que o festival não seja, hoje, o maior símbolo cultural da ilha, por unir todas as expressões culturais em espetáculo único e construir as identidades dos parintinenses. É impossível não reconhecer as melhorias que a festa proporciona à cidade – na economia, na infraestrutura, na educação e cultura.

Por meio dessa grande festa televisiva ou cultura de massa, artistas mostram talentos ao mundo, que os levam a outros lugares do Brasil. O que é plausível, garantem prestígio, no entanto, o verdadeiro reconhecimento a esses profissionais deve, justamente, ser tratamento digno em todos os sentidos.
A categoria artista de alegoria é o nome que os trabalhadores se identificam e se formam em equipes montadas por escultor, soldador, decorador, pintor, serralheiro, aderecista, revestidor, artesão e auxiliar de galpão, coordenada por um artista plástico, chamado artista de ponta.

Os artistas de alegorias veem o festival como oportunidade para ganharem uma renda, por meio da arte, e conseguem alcançar esse objetivo. Porém, o atraso no pagamento – sem generalizar – é um problema recorrente, a depender das diretorias dos bumbás. Essa falta de compromisso com a classe, resulta em greves, que eles se submetem para garantirem um dos mínimos direitos – o pagamento.
O espetáculo começa dentro dos galpões do Garantido e Caprichoso, onde surgem as belas criações de alegorias feitas por esses profissionais. Os trabalhos são os mais arriscados e pesados possíveis. As condições trabalhistas são falhas, preocupam e indignam. Segundo os artistas, a Segurança do Trabalho (ST) fica a desejar, há carências dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

São inúmeras as dificuldades encontradas, inclusive para a realização do projeto, a falta de material ou atraso do material, comprometem o trabalho. Esses transtornos, também só acontecem em más diretorias dos bumbás. Os guerreiros, por amor à cultura e à arte, ainda com os mínimos recursos, conseguem entregar e executar as alegorias na arena. Lógico, na esperança de receberem o que lhes é prometido em contrato.
Em quase três meses executam os projetos que são cenários do festival, nas três últimas noites do mês de junho, na arena do Bumbódromo. E quanto mais as grandes datas se aproximam – o trabalho se torna extremo, entre sol e chuva, finais de semana e feriados. O que não podem? Correrem o risco de não cumprirem o combinado – a entrega do espetáculo no tempo certo.

Os artistas de galpão são condicionados a não valorização de seus trabalhos, mesmo conscientes das falhas. É nítido essa desvalorização que se submetem, por necessidade ou por falta de oportunidade, que proporcione os devidos direitos trabalhistas. E também, de acordo com alguns relatos, por amor à cultura e à arte.
Razões que não justificam o aproveitamento da força de trabalho e a boa vontade dessas pessoas, que dedicam o suor dia pós dia aos bumbás, para garantirem o sustento da família e honrarem os compromissos. E, ainda assim, contribuírem com essa festa representativa, que ecoa arte – mas tem muito a melhorar em aspectos como esses aqui citados.

Este artigo é baseado em entrevistas e nas situações observadas nos bastidores, antes e durante os festivais. Fica a reflexão a partir das súplicas dos artistas de alegorias, para que melhorem o tratamento a eles e aos artistas em geral, que ajudam no complexo cultural dos bois-bumbás todos os anos.

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